“Gostaria que o trenzinho voltasse a funcionar aqui no Parque de Águas Claras. Era muito legal a gente passear nele”. Este é o relato nostálgico da moradora Raquel Azevedo, 8 anos e nascida em Águas Claras.
“O Trenzinho faz muita falta para os frequentadores do Parque. Quando ele funcionava eu e meus três filhos, pegávamos carona até os quiosques. Caminhar até lá com criança no colo é cansativo, pois é muito distante”. Este é mais um relato da moradora Roberta Figueiredo, 48 anos, mãe da Cecília (7), Carlos (9) e Roberto (11).
O Trenzinho do Tio Bertô era a festa da criançada e, também, dos papais, mamães, vovós e vovôs, até meados de 2016, quando parou de rodar dentro do Parque Ecológico de Águas Claras, depois de 15 meses funcionando, por causa do indeferimento do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) do pedido de autorização, para que o veículo continuasse trafegando dentro da área.
Segundo o administrador do veículo, João Carlos Bertolucci (56), a solicitação para a renovação da autorização foi feita em meados de 2016. Entretanto, o Ibram só veio indeferir o pedido em fevereiro de 2018. “Nós fizemos o pedido de renovação da autorização para o trenzinho continuar fazendo a alegria da criançada em 2016. Porém, o Ibram só veio responder e indeferindo o nosso pedido um ano e meio depois de protocolado no órgão ambiental”, reclama Bertolucci.
O veículo, que trafegava na pista central de junho de 2015 até agosto de 2016, está parado há quase dois anos na entrada do Parque Ecológico, mas, mesmo assim, ainda continua fazendo a alegria da criançada. É possível ver dezenas de papais fotografando seus filhos sobre o trenzinho.
“Enquanto não volta a funcionar, a criançada se esbalda aqui em cima. As fotos registram o momento de diversão da meninada. Pena que o Ibram vem causando este problema para o veículo voltar a rodar”, afirma Renato Albuquerque, frequentador assíduo do parque.
Atendia até 1 mil nos finais de semana
De acordo com o administrador do Trenzinho do Tio Bertô, o veículo tem capacidade para transportar 40 pessoas e quando estava em funcionamento cerca de mil pessoas passeavam no trenzinho nos finais de semana.
“Não eram só as crianças que se divertiam no trenzinho. Transportávamos, também, idosos e pessoas com necessidades especiais. É um veiculo que acaba tendo uma utilidade pública, já que é proibido a entrada de veículos no Parque”, relata Bertolucci.
Desde novembro de 2015 o Instituto Brasília Ambiental, órgão gestor de 73 parques existentes no DF, vetou a entrada de veículos dentro do Parque. Na época, houve grande pressão da comunidade para que a decisão fosse reconsiderada. No entanto, o órgão manteve a proibição.
Passados quase três anos, a comunidade continua pressionando o órgão para melhorar a locomoção das pessoas dentro do parque. “Até que eu não sou contra a proibição da entrada de carros. No entanto, o Ibram deveria ter colocado alternativas para que algumas pessoas pudessem chegar até os quiosques. A caminhada até lá, principalmente para pessoas de idade ou mamães com suas crianças, possam fazer o trajeto tranquilamente. São 800 metros de caminhada sob o sol escaldante, e muitas crianças acabam se cansando no percurso, aí sobra para os pais carregá-los no colo”, observa Antonio Figueiredo (35).
Danos ao veículo
Mesmo estando dentro de uma unidade de conservação com vigilantes 24 horas, o Trenzinho do Tio Bertô não ficou livre da ação de vândalos e depredadores. O veículo, segundo Bertolucci, foi danificado severamente nos últimos meses. Além de terem sido quebradas várias peças e acessórios, colocaram cascalhos dentro do radiador.
A ação gerou um Boletim de Ocorrência na 21ª Delegacia de Polícia de Águas Claras, em fevereiro de 2018. Conforme o BO de número 2085/2018, foi solicitado uma perícia no veículo, que ainda aguarda o resultado pericial.
“Fomos retirar o veículo de lá em fevereiro deste ano, quando fomos notificados pelo Ibram. Entretanto, ao tentar funcionar o veículo, o mecânico constatou que haviam colocado brita dentro do radiador. Uma maldade sem fim. Estamos esperando o resultado da perícia para ver como vamos agir junto ao órgão gerenciador do parque, já que o veículo foi danificado lá dentro”, afirma Bertolucci. “Também ficamos impossibilitado de retirá-lo do local. O trenzinho é muito grande e só tem como retirá-lo de lá funcionando”, explica.
Para a superintendente de Gestão de Unidades de Conservação, Lélia Barbosa de Souza Sá, o órgão desconhecia os danos causados no veículo e que está verificando com o presidente o que será feito.
Porém, Bertolucci ressalta que a administração do Parque Ecológico de Águas Claras foi informada do ocorrido no mesmo dia em que a polícia esteve no local para fazer a perícia. “Estranho que o órgão desconhecia os danos no Trenzinho, até porque foi a própria administração do parque que autorizou a entrada dos policiais para realizarem a perícia no local. Inclusive acompanharam toda a ação pericial”.