O polêmico Albergue Conviver (Albercon) do Areal volta aos holofotes. Na verdade, para os moradores e comerciantes próximos ao abrigo, ele nunca sai do foco por tantos prejuízos e medo causados. Localizado na QS 09, a unidade de acolhimento recebe diariamente pessoas em situação de rua e que não tem onde passar a noite, e também de outros estados e viajantes. A fila para entrar é grande e o albergue oferece alimentação, local para tomar banho e dormir. São homens (solteiros ou com a família), mulheres (somente com família – solteiras não são permitidas) e crianças que podem usufruir do atendimento do local, que é espaçoso – possui refeitório, banheiros feminino e masculino e salas para atividades.
Acontece que muitos albergados não trabalham durante o dia e ficam pelas ruas do Areal pedindo dinheiro e comida. Muitos deles fazem uso de drogas e bebidas à luz do dia, importunam os clientes que chegam no comércio local, ocasionam diversos tipos de violências e roubos. Quem não consegue vaga para entrar na unidade de acolhimento
dorme nas calçadas debaixo das marquises das lojas. Os moradores e comerciantes perderam as contas de quantos abaixo-assinados, solicitações às autoridades, reclamações e petições para que o Albercon seja transferido para outro endereço.
Medo no comércio
Ana Cláudia Rocha é proprietária da Padaria Doce Pão há três anos – o comércio está localizado na mesma avenida do Albercon – e ela narra diversos episódios lamentáveis que ocorrem diariamente em seu estabelecimento. “Principalmente de manhã e a tardezinha, é comum os albergados se aglomerarem na calçada da padaria, grupos de 10 a 15 moradores de rua ficam aqui abordando os clientes. É muito constrangedor e irritante, porque já perdi muitos clientes por causa dessa abordagem e insistência”, relata Ana Cláudia. Ela conta que além de pedir dinheiro na porta da padaria, eles brigam muito entre si, a maioria sob efeito de álcool e drogas, ficam alterados e gritando. Moradora há 14 anos do bairro, Ana Lúcia de Carvalho tem um salão de beleza que é todo cercado por grades altas e afiadas. “Como eu já morava aqui e sabia desses elementos que ficam andando sem rumo, quando abri o salão já fiz todo cercado para evitar problemas com a segurança”, afirma a empresária, que já viu vizinhas sendo assaltadas, e acompanha de dentro do seu comércio dezenas de moradores de rua diariamente usando drogas na praça próxima ao salão.
A comunidade aproveitou a presença do governador Rodrigo Rollemberg em um evento
no Areal em maio deste ano e reivindicaram a transformação do albergue em escola. O governador considerou que é preciso atender tanto os albergados quanto aqueles que querem mais escolas, mas até agora nada foi feito de fato em favor da população do Areal.
O Colégio Jesus Rosa sofre significantemente os prejuízos que o Albercon traz para o bairro. Instalado há 16 anos no Areal, o colégio infantil tem as faixas arrancadas pelos sem-teto que as utilizam delas para se cobrir. A diretora Elissandra Rosa Jesus Almeida diz que pais que se interessam pela escola e procuram pontos de referência, ao saber da proximidade com o albergue desistem de matricular os filhos. E, com certa razão, na praça próxima à escola moradores de rua fazem uso de drogas e bebidas, relações sexuais explícitas de dia e importunam os pais que vêm deixar e buscar os filhos. “Eu gostaria muito que esse albergue fosse tirado do Areal, o bairro está cada vez mais marginalizado e perigoso. Já tentaram levar o carr
o de um pai de aluno”, conta a diretora.
Ex-morador
Francisco Pereira da Silva veio do Maranhão com a esposa e seis filhos e não tinha local para ficar no DF, encontrou abrigo no albergue e ficou alguns meses no local. Com o passar do tempo conseguiu moradia, de frente ao Albercon e trabalha como catador de reciclável. Ele relata que tempo atrás alguns moradores de rua eram assassinados dentro do próprio albergue. Gente de fora pulava o muro da unidade e matava
quem estava de dentro, segundo ele. “Por questões particulares e alheias ao albergue, porém era resolvido ali dentro”, jura. Francisco tem muita gratidão pelo período que foi recebido no Albercon, mas afirma que é hora da unidade encontrar outro endereço. “A coisa ficou muito bagunçada, tem poucas vagas ultimamente e vejo muito morador de rua acampado nas calçadas perto do albergue, não tem pra onde ir e ficam por aí fazendo coisa errada.”
Tranferência complicada
Em atenção aos moradores do Areal. a deputada distrital Telma Rufino criou um projeto de lei que solucionará o problema da região. É a PL 1173/2016, que define o seguinte
conteúdo: “Fica proibida a instalação de albergues em perímetros urbanos próximo a áreas habitacionais e escolares do Distrito Federal e dá outras providências.” Segundo a deputada, a tranferância dos albergues hoje localizados nas áreas urbanas do DF vai proporcionar melhor segurança aos moradores e também melhores condições de acomodação aos albergados em locais apropriados. A determinação é que essas unidades de acolhimento sejam construídas a partir de um raio de pelo menos 2 km do perímetro urbano.
“Tenho um compromisso com a população do Areal e, desde que assumi o meu mandato, tenho lutado para remover o albergue dali. Vou lutar até o fim para levar para aquele espaço uma escola de ensino fund
amental e médio, uma unidade de saúde, uma creche e um centro de convivência do idoso”, garante a deputada Telma Rufino. O projeto de lei que define novas regras para construção de unidades de acolhimento como albergues, da deputada, foi vetado pelo governo e voltou para a Câmara Legislativa do Distrito Federal, onde a deputada está trabalhando para que o veto seja derrubado e a lei entre em vigor o quanto antes.