por Aline Diniz

No próximo dia 6 de maio, Águas Claras celebra 22 anos como Região Administrativa do Distrito Federal, carregando consigo a trajetória de uma cidade que se transformou de um cerrado inexplorado em um dos maiores e mais modernos polos urbanos da capital. Desde sua concepção como bairro em 1994 até a criação oficial da RA em 2003, o caminho foi marcado por ousadia urbanística, superação de desafios e uma comunidade vibrante que não para de crescer.
Planejada pelo arquiteto e urbanista Paulo Zimbres, Águas Claras nasceu com a proposta de ser uma cidade verticalizada, funcional e visualmente harmônica. A paisagem, hoje tomada por edifícios altos e infraestrutura de ponta, contrasta com a natureza do Parque Ecológico e das praças inspiradas na fauna brasileira.
“Era só poeira, córregos e cerrado. Mesmo assim, a gente acreditava naquele sonho”, relembra o empresário Vasco Pigato, responsável pela construção do primeiro edifício da cidade. “Tínhamos uma vontade enorme de ver aquela cidade nascer e fazer parte disso desde o início. Foi um ato de fé e coragem.”
Pigato foi um dos pioneiros da urbanização local e também fundador da primeira associação de moradores. Mesmo morando atualmente em outra região, ele mantém negócios em Águas Claras e acompanha o crescimento da cidade. “É um lugar moderno, com boa gastronomia, áreas verdes, e um público jovem e diversificado. Claro que temos problemas, como o trânsito e a mobilidade, mas são desafios de qualquer cidade grande”, comenta.

Vasco Pigato, pioneiro da construção civil em Águas Claras, relembra os primeiros anos da cidade e sua contribuição para transformar o cerrado em um dos principais polos urbanos do DF

Crescimento e mobilidade
Desde os primeiros edifícios até a densa malha urbana que se vê hoje, Águas Claras experimenta um dos crescimentos populacionais e econômicos mais acelerados do Distrito Federal. Os dados mais recentes, de março de 2024, apontam uma densidade populacional superior a 14 mil pessoas por quilômetro quadrado, totalizando aproximadamente 128.400 habitantes em uma área de apenas 9,1 km². Essa marca torna a cidade não só a mais verticalizada, mas também a região administrativa com maior população por metro quadrado de Brasília, figurando entre as que mais crescem em todo o país.
Esse ritmo acelerado de crescimento trouxe também um cenário urbano moderno. Shoppings centers, restaurantes de diversos estilos, bares, galerias comerciais e serviços variados compõem uma infraestrutura que atende a uma população cada vez mais exigente. Ainda assim, a cidade preserva espaços verdes importantes como o Parque Ecológico, com seus córregos, trilhas e áreas de mata, e praças temáticas que funcionam como pontos de encontro para famílias e amigos.
Além do metrô, a cidade também vem investindo em alternativas de locomoção urbana. O sistema de ciclovias é bastante utilizado por quem busca um deslocamento mais sustentável, e os patinetes motorizados se tornaram uma opção prática e ágil, especialmente em trajetos curtos entre residências, comércios e estações de metrô.


O ritmo de crescimento é um dos mais intensos do Brasil, resultado de um mercado imobiliário aquecido e de uma população em busca de qualidade de vida.
A biomédica Júlia Gouvêia é uma das moradoras que testemunharam a transformação de Águas Claras. “Morei aqui na infância, antes mesmo do metrô. Saí por um tempo, e quando voltei, em 2009, quase não reconheci a cidade”, relata. “Hoje moro com meu marido e escolhemos essa região pela praticidade e infraestrutura. Apesar dos congestionamentos, ainda considero um ótimo lugar para formar família.”
A mobilidade urbana, aliás, é um dos pontos marcantes da RA. Águas Claras foi pioneira na integração ao metrô do DF, o que impulsionou sua valorização e facilitou o acesso ao Plano Piloto e outras regiões. Estações como Arniqueiras, Concessionárias e Águas Claras tornaram-se pontos estratégicos para quem depende do transporte público.
“Na época, o metrô era uma inovação. Ajudou muito a atrair moradores e investidores”, avalia Luiz Gonzaga Alves da Silva, que chegou à cidade como vigia de obra e hoje trabalha como porteiro no mesmo condomínio que ajudou a construir. “No começo, o ônibus só ia até a EPTG. O resto era no pé mesmo. A gente corria atrás, literalmente.”

Celebração
Segundo a Assessoria de Comunicação da Administração, a programação de festas e eventos para celebrar os 22 anos de Águas Claras ainda está sendo elaborada e deve ser divulgada nos próximos dias. No entanto, um dos eventos mais tradicionais já está confirmado: a Missa em Ação de Graças, marcada para o dia 14 de maio, às 19h, na Paróquia João Paulo II, localizada na Rua das Aroeiras, Quadra 107, Lote 03.
O atual administrador de Águas Claras, Gilvando Fernandes, assumiu o cargo em abril de 2025, mas já conhece bem a cidade. Morador da região em 2013, ele destaca a solidez e o potencial do comércio local, que atende às mais diversas demandas da população. “A cidade é muito bem organizada e tem uma previsão de valorização maior que outras cidades”, afirma. Com entusiasmo, ele completa: “Presenciei a cidade crescer e se desenvolver muito rapidamente. Apesar dos desafios, Águas Claras permanece entre as mais seguras do DF, o que proporciona investimentos e prosperidade.”

 

Uma cidade projetada para a classe média

Implantada oficialmente em 16 de dezembro de 1992 como parte da Região Administrativa de Taguatinga, Águas Claras nasceu em uma área de chácaras cortada pelo córrego que dá nome à cidade — afluente que deságua no Lago Paranoá.
Idealizada pelo arquiteto e urbanista Paulo Zimbres, o projeto buscava oferecer qualidade de vida semelhante à do Plano Piloto, mas com imóveis acessíveis à classe média. Desde o início, a proposta urbanística previa a integração com o metrô, incentivando o uso do transporte público e reduzindo a dependência de automóveis.
O plano original previa prédios com altura máxima de 12 andares. No entanto, por pressão do mercado imobiliário, as regras foram alteradas e passaram a permitir construções de até 30 andares. A mudança acelerou o adensamento populacional e comprometeu parte do planejamento urbano, cujos reflexos são percebidos hoje, principalmente no trânsito e na mobilidade urbana.
A primeira grande campanha publicitária para atrair moradores aconteceu a partir de 1993, posicionando Águas Claras como um bairro feito sob medida para a classe média do DF. O primeiro edifício lançado foi o Residencial San Marino, da construtora Encol, que mais tarde enfrentou falência em meio a denúncias de irregularidades.
O projeto também reservou metade dos 808 hectares da cidade para áreas verdes. Suas avenidas e alamedas receberam nomes de árvores — como Castanheiras, Araucárias e Flamboyant — enquanto as praças foram batizadas com nomes de aves, como Pardal, Beija-Flor e Tiziu.
Em 2003, Águas Claras deixou de ser uma extensão de Taguatinga e se tornou oficialmente uma Região Administrativa. Com mais de 160 mil moradores e centenas de edifícios erguidos ou em construção, a cidade segue em constante expansão e ainda é considerada um dos maiores canteiros de obras do país.

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