O programa Mulheres pelo DF levou informações e ações voltadas para a autoestima a pacientes com câncer nesta terça-feira (27). Primeira-dama da capital, Mayara Noronha comandou uma roda de conversa com médicos especialistas durante a segunda edição do evento, que durou toda a tarde no shopping DF Plaza, em Águas Claras. O projeto contou com a parceria de empresários que montaram uma área especial de acolhimento com oficinas de massagem, de maquiagem, de amarrações de lenços e de empoderamento.
Iniciativa do Governo do Distrito Federal (GDF), o encontro contou com parceria da iniciativa privada e de influenciadores. “O projeto foi idealizado para aproximar a sociedade no esclarecimento de vários temas. O primeiro tratou do empoderamento de mulheres que passam pela violência doméstica. Hoje, resolvemos dar atenção às mulheres que passam ou passaram pelo câncer, e todas as suas famílias. É uma doença que não escolhe classe social, sexo, idade”, destacou a primeira-dama.
O programa foi lançado em março com objetivo de dar conhecimento, capacitação, empoderamento e autoestima às mulheres da capital. O trabalho percorre as regiões administrativas com debates, oficinas e ações de acolhimento. A ideia é que as conversas resultem em políticas públicas voltadas para o gênero feminino. Desta vez elas ganharam almoço, com a presença das deputadas federais Flávia Arruda e Celina Leão, receberam massagem, aprenderam a se maquiar e a usar lenços, receberam informações da equipe do Hospital Regional de Taguatinga (HRT).
A primeira-dama abriu as portas de seu gabinete, no Palácio do Buriti, para receber propostas e projetos, como forma de instituir uma política pública que atenda às pacientes com câncer do Distrito Federal. “Nosso papel na terra é ser solidário. Vamos ser solidários juntos”, exortou.
Roda de conversa
O encontro também contou com uma roda de perguntas e respostas com três médicos do HRT. Os oncologistas Márcio Almeida e José Lucas Junior, além do cirurgião plástico Guilherme Cunha, foram provocados com perguntas da primeira-dama e das participantes do evento. Eles esclareceram sobre prevenção, tratamento e acompanhamento das pacientes.
“Esse evento é muito importante para informar. É oportunidade de tirar dúvidas que as vezes não são possíveis em consultórios”, disse o médico José Lucas. De acordo com ele, não há uma causa específica ou culpado para o diagnóstico da doença. “São vários fatores que podem desenvolver [a doença]. Obesidade, falta de atividade física, alimentação. A gente tem que disciplinar nossa vida para prevenir”, recomenda.
“No passado, o tratamento de câncer era sofrido e ficou o estigma. Temos medicamentos novos, reconstrução imediata, a mulher não sai mutilada do centro cirúrgico. Isso que ficou faz a pessoa não fazer prevenção, não procurar atendimento médico… e isso tem que acabar”, acrescenta o médico.
Os doutores elencaram os quatro exames principais para prevenir: para câncer de mama, mamografia a partir dos 40 anos — ou aos 30 para pacientes com histórico familiar; para câncer de útero, papanicolau; para câncer no intestino, pesquisa de sangue oculto nas fezes; para câncer de próstata, exame de toque.
“Temos sempre que orientar prevenção e diagnóstico precoce, possível com regularidade nos exames”, ressalta o oncologista Márcio Almeida.
Feminilidade
São registrados cerca de 14 milhões de casos novos da doença, anualmente, em todo o mundo, aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a Secretaria de Saúde, os tipos de câncer mais comuns no DF seguem o padrão nacional. Nas mulheres, o maior índice é o de mama, seguido por cólon e colo de útero.
O cirurgião plástico Guilherme Cunha contou que muitas pacientes chegam ao seu consultório com medo de perder a feminilidade após o diagnóstico mais comum. “Nós entramos com a restituição para dar esperança”, diz. De acordo com ele, no HRT são feitas, diariamente, quatro mastectomias (retirada das mamas) com reconstrução imediata.
Raquel Carvalho, 34 anos, foi diagnosticada com câncer de mama após nascimento da filha, em 2016. Ela fez radioterapia e passou por três cirurgias, incluindo mastectomia. “A partir do início do tratamento busquei por outras pacientes que passaram pelo que eu passaria”, conta a advogada. O encontro de experiências se tornou uma grande rede com 400 pacientes – a maioria é atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Juntas elas formam a organização não-governamental (ONG) Vencedoras Unidas e promovem encontros, bate-papos, palestras e eventos.
Para ela, eventos como os que são gerados pelo programa Mulheres pelo DF são “super importantes”. “A paciente perde cabelo, perde mama, perde a própria identidade como mulher. Fortalecer a autoestima e a feminilidade contribui para o tratamento. Mostra que a beleza não se foi”, diz a advogada, revelando que, no início, chegou a usar lenços, mas assumiu a careca como individualidade. Agora, os fios voltam a crescer.