Por Francisco Neto

Águas Claras é um dos bairros que mais crescem no Distrito Federal. Com o aumento da população, o trânsito tem se tornado mais intenso. Moradores reclamam que os engarrafamentos são diários e que a infraestrutura das vias enfrenta dificuldades para acompanhar o crescimento da região.
Somente na região, existem 21 obras em construção, de proporções e tamanhos diversos — residenciais, comerciais e mistas — segundo a administração regional. O crescimento acelerado de Águas Claras tem impactado diretamente o trânsito na região, gerando congestionamentos frequentes, especialmente nos horários de pico. Para moradores e comerciantes, a infraestrutura viária não acompanhou a expansão da cidade.
“É muito caótico, né? Parece que não planejaram para o crescimento da cidade. Toda hora engarrafa tudo, ainda mais em horário de pico. Aqui mesmo, na nossa rua, tem umas seis escolas, então, quando os alunos saem, vira uma bagunça. As ruas não acompanham o crescimento de Águas Claras. Tem muito prédio sendo construído, e não aguenta”, relata o comerciante Mateus Calixto, de 26 anos.
Nos últimos cinco anos, a população de Águas Claras cresceu aproximadamente 5,1%. O número de moradores passou de 124 mil em 2020 para 130.342 em 2025, segundo dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). Esse crescimento acelerado resultou em maior fluxo de veículos e impactos na mobilidade. Francisca de Melo, de 42 anos, comenta sobre o crescimento da região e os desafios de locomoção: “O aumento de prédios trouxe mais moradores, mas as ruas continuam a mesma coisa. Triste ter que levantar antes para chegar ao trabalho e, mesmo assim, chegar atrasada. Isso reflete demais no humor da gente”, observa.
Segundo moradores, a região enfrenta dificuldades devido às ruas estreitas e à falta de sincronização de semáforos. Essas questões resultam em retenções no trânsito, mesmo fora dos horários de pico.
“Eu ando mais de bike, prefiro minha bike mesmo. Mas, mesmo assim, sinto o trânsito bem complicado, principalmente às 7 horas da manhã, quando tem o pico dos colégios. O estacionamento e o semáforo também são difíceis, ainda mais nessa parte aqui de baixo, onde há muito fluxo de carros e poucos semáforos. E, quando tem, não são sincronizados”, afirma Francisco Dantas, ciclista de 59 anos.

Transporte Público e Desafios


O metrô é uma alternativa para a mobilidade urbana, mas enfrenta desafios operacionais. Um exemplo ocorreu em janeiro do ano passado, quando um dos vagões de um trem pegou fogo enquanto seguia de Águas Claras para Samambaia. O corpo de bombeiros foi acionado para controlar as chamas. Na ocasião, ninguém ficou ferido. Na época, o Metrô-DF informou que a circulação de trens foi retomada por volta das 12h30 e seguia normal. O trem incendiado foi recolhido para o pátio, e equipes monitoravam o sistema, além disso, há registros de superlotação diariamente e necessidade de manutenção em suas linhas. O presidente do metrô, Handerson Torres, informou que serão adquiridos 15 novos trens com um investimento de 900 milhões de reais. “O processo de compra foi iniciado e está em andamento”, declarou.
Além disso, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (SEMOB) criou a linha 0.008 do Zebrinha para Águas Claras, ampliando o itinerário e ajustando a tabela horária. A linha faz parte da rede de transporte integrado ao metrô e busca atender à demanda da população.

Medidas para Melhorar o Trânsito


O Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER-DF) está implementando projetos para a melhoria da mobilidade urbana, entre eles a obra da terceira saída de Águas Claras, que foi dividida em duas etapas devido a parcerias com construtoras da região. A primeira fase, concluída em agosto de 2023, já beneficia mais de 150 mil motoristas ao conectar a EPTG à Rua das Carnaúbas.
Atualmente, está em andamento a segunda etapa, que envolve obras de drenagem para melhor integração viária. A previsão é de conclusão no primeiro semestre deste ano.
O especialista em trânsito Wellington Matos alerta que a criação de novas saídas em uma cidade não garante, por si só, a melhoria no tráfego. Segundo ele, é essencial que essas vias levem os motoristas para destinos diferentes, evitando que o congestionamento apenas se desloque de um ponto para outro.
“Se eu fizer saídas que terminem no mesmo lugar, não vai adiantar nada. Você só vai fracionar o engarrafamento. Aí engarrafa de um lado, engarrafa do outro, e as quatro saídas estão engarrafadas porque todas elas vão para o mesmo lugar. Para resolver de verdade, as novas saídas precisam alcançar destinos diferentes ou ter condições que não atrapalhem as vias já existentes”, explica o especialista.
Mesmo com essas mudanças, muitos motoristas ainda enfrentam dificuldades, principalmente na hora de estacionar, como mostram as imagens. A placa está ali, escrita “Proibido Estacionar”, mas, mesmo assim, é possível ver dezenas de carros estacionados de forma irregular.
Segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), estacionar em um local sinalizado com a placa de “Proibido Estacionar” acompanhada de uma cruz é uma infração gravíssima. Isso resulta em sete pontos na carteira de habilitação, multa no valor previsto na legislação vigente e remoção do veículo. Além disso, o motorista precisará arcar com as taxas de guincho e diárias do pátio para recuperar o carro.
O trânsito em Águas Claras continua sendo um dos principais desafios para moradores e motoristas. Para melhorar a mobilidade no futuro, é essencial investir em educação no trânsito e na diversificação dos meios de transporte, segundo o especialista Wellington Matos. Ele destaca que soluções eficazes precisam ir além da ampliação de vias e focar em modais alternativos e transporte coletivo de qualidade.
“Para tirar o número de carros das vias, é preciso ter um transporte coletivo digno, com horários suficientes para atender à população. Além disso, seria interessante criar bolsões de estacionamento para que motoristas possam deixar seus carros e seguir viagem de bicicleta, patinete ou metrô. Mas, para isso funcionar, esses modais precisam estar integrados, garantindo que as pessoas possam transitar com segurança e sem custos extras”, explica o especialista.

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