Por Vanessa Castro

Ilustração: Canva

Águas Claras, a cidade vertical do DF, com seus mais de 750 condomínios, é o contraste entre a imponência dos prédios e a funcionalidade e autonomia a poucos quilômetros do Palácio do Planalto. Com calçadas, o parque e o comércio ativo, o local sempre foi convite para a qualidade de vida e de entretenimento sem ter que cruzar a EPTG.

Crescemos a cada dia: novos moradores, entre humanos e os tantos pets que vemos circulando por nossos espaços. Temos um pouco de tudo, além de vista privilegiada para o nascer e o pôr do sol. Podemos resolver a vida de carro ou de metrô, mesmo habituados a fazer tudo de carro. Essa é a nossa rotina. Somos servidores públicos, ativos e aposentados, pequenos e médios empreendedores, empresários estabelecidos. Aqui, temos algo ainda de cidade grande, com o nosso trânsito complicado, mas também com os tantos barzinhos e food trucks para reunir quem amamos.

Esse era o nosso dia a dia até a pandemia chegar por aqui e registrar muitos casos. Tantos que os temos mais do que nove estados. E o número não para de crescer. Os que não precisam sair às ruas diariamente, ou ganhar o dinheiro do pão para trazê-lo para a família FIQUEM EM CASA. É a frase que mais escutamos nos últimos dias, e é a única que expressa a necessidade real de recolhimento.

A saída semanal ao supermercado, os posts nos grupos do Facebook, os comentários e fotos no Instagram mostram que há, ainda, muitos nas ruas, com roupas de academia, caminhado com a família e os animais de estimação. Não estamos de férias, nem de recesso. Estamos, todos, vivenciando uma pandemia, silenciosa e agressiva, que não escolhe raça, cor, credo, idade, sexo e nem o saldo bancário. Muitos são os curados, porém, na lógica das probabilidades, é muito incoerente garantir que o vírus nos atinja sem consequências ou, ainda, sem nos levar a vida. A despedida que ela provoca é solitária, sem, ao menos, a oferta do último adeus. Já sabemos, muito bem, de tudo o que ocorre na Europa. Simplesmente, a conta não fecha quando há muitos que precisam de respiradores e de leitos de UTI.

Talvez a dificuldade de permanecer em casa seja a do enfrentamento consigo e, também, com o núcleo familiar. Os que moram sozinhos aprendem sobre solidão e solitude. As famílias reforçam laços ou aprendem, no convívio imposto, a resolver divergências. Oito ou oitenta. Pergunto-me que lições podemos aprender rapidamente. Meus pensamentos me direcionam para aceitação, resiliência, calma e capacidade de adaptação. Quase nada é tão urgente, a não ser a vontade de recomeçar quando a quarentena acabar. Mas é preciso passar por ela. A fuga, nesse caso, não é um bilhete de viagem para algum destino; o percurso mais seguro é que nos faz permanecer em casa.

Como ser humano e, também, jornalista, não aguento mais ler, assistir e ouvir sobre os dados de infectados e de vítimas. Todo esse conteúdo é muito pesado e nos desperta, muitas vezes, medo e desesperança. É um cenário muito triste e incerto para todos nós. É preciso autorresponsabilidade, autoanálise, sacrifício de permanecer o máximo possível em casa, saindo somente para o trabalho, o supermercado, a padaria e a farmácia. Apenas o essencial. Por algumas semanas, podemos dispensar os supérfluos. Neste momento, nada é mais importante do que nossa vida.

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