por Aline Diniz
A inauguração da terceira saída de Águas Claras, ocorrida em 5 de agosto de 2023, foi inicialmente celebrada como um avanço importante para a mobilidade da região. A via, que conecta a Estrada Parque Taguatinga (EPTG) à Rua das Carnaúbas, surgiu com a proposta de aliviar o intenso fluxo de veículos. No entanto, oito meses após sua abertura, o entusiasmo deu lugar à frustração.
As obras complementares, iniciadas há cerca de seis meses na pista de acesso a Águas Claras — nas proximidades da residência oficial do governador — encontram-se paralisadas. A via que liga a EPTG ao balão da Pitangueira está em funcionamento, mas inacabada, o que levanta preocupações quanto à segurança de motoristas e pedestres.
Além disso, intervenções recentes na marginal da EPTG complicam ainda mais a circulação. Motoristas enfrentam dificuldades para escolher entre acessar a terceira saída ou seguir pela via principal da EPTG, agravando os congestionamentos.
Moradores relatam transtornos
Usuários das vias afetadas, sejam residentes de Águas Claras ou não, relatam uma rotina de estresse e riscos. Carla Mileia, moradora há nove anos da cidade, explica que, apesar de a nova saída inicialmente ter melhorado o fluxo, os impactos negativos surgiram rapidamente.
“Com o aumento no número de veículos, a Avenida Parque Águas Claras ficou sobrecarregada. O trânsito em torno da Paróquia Nossa Senhora de Assunção, por exemplo, piorou bastante. Atravessar a rua onde moro virou um desafio, não há faixas de pedestres, e somos obrigados a nos arriscar entre os carros”, relata.
Carla também critica a falta de planejamento: “Não bastava abrir mais um acesso. Era necessário estudar os impactos e preparar melhor a infraestrutura. Sair da garagem virou uma aventura. Meu marido presenciou um acidente com um vizinho que tentava sair do prédio.”

Segundo ela, a percepção é de que o GDF se preocupa mais com a autorização de novos empreendimentos imobiliários do que com a qualidade de vida. “A cidade não tem estrutura para comportar tanta gente”, afirma.
Outro morador, Emanuell Henrique, que vive há 12 anos na Avenida Parque Águas Claras, reforça as críticas. Ele cita um “meio balão” instalado na nova via, cuja função ainda é motivo de dúvidas. “O balão trava o trânsito no horário de pico. Não há sinalização definitiva, o que causa confusão. A obra está parada há meses e obriga motoristas a fazer retornos dentro da cidade, agravando o congestionamento”, explica.
Emanuell também questiona a falta de transparência. Para ele, o GDF deveria disponibilizar um portal que permitisse à população acompanhar o andamento das obras, seus custos, prazos e responsáveis. “Falta clareza. A população merece saber o que está sendo feito e por quê”, conclui.
Reflexos além de Águas Claras
Fernando Nascimento, morador do Núcleo Bandeirante, também sente os impactos das obras inacabadas. Ele utiliza a EPTG diariamente para levar os filhos à escola em Águas Claras e seguir ao trabalho em Taguatinga.
“A nova saída deveria ser um alívio, mas a obra está incompleta. Falta sinalização adequada e, em dias de chuva, ocorrem alagamentos. O projeto não parece ter planejamento. Isso afeta quem passa por aqui todos os dias, e ainda mais quem não conhece bem a região”, observa.

A obra
A terceira saída é formada por duas pistas com 1,8 km de extensão, cada uma com duas faixas de rolamento. Ao longo do trajeto, há uma ciclovia e um estacionamento com 1.400 m², com capacidade para 134 veículos, localizado em frente ao comércio que margeia a via.
Com investimento total de R$ 14 milhões, a obra foi dividida em duas etapas. A primeira fase, executada pela Construtora Direcional como parte de uma compensação habitacional, foi concluída em agosto de 2023 e custou R$ 8 milhões. Já a segunda etapa, a cargo do Governo do Distrito Federal (GDF), teve aporte de R$ 6 milhões e ainda está em andamento.
A nova via oferece uma terceira alternativa aos motoristas que, até então, dependiam exclusivamente do balão da Unieuro e do Viaduto Israel Pinheiro. Com a liberação da terceira saída, é possível acessar a EPTG pela Rua das Carnaúbas, nas proximidades do Parque Ecológico. Para quem entra na cidade, o acesso é feito pela EPTG sentido Plano Piloto, após a Residência Oficial de Águas Claras.
Complexidades
Devido à presença do Córrego de Águas Claras, a execução da obra exigiu soluções estruturais mais complexas. Foi construída uma galeria pluvial composta por 114 módulos em três linhas, com 38 metros de comprimento cada. Também foram instaladas duas passagens de fauna, com tubos de concreto de 1,5 metro de diâmetro, além de uma passagem aérea para travessia de primatas, com o objetivo de preservar a fauna local e evitar atropelamentos.
A segunda fase da obra inclui a execução do sistema de drenagem e o encaixe definitivo com a Rua das Carnaúbas. Segundo o DER-DF, a conclusão está prevista para o primeiro semestre de 2025. Até lá, parte da via continuará interditada para garantir a segurança de pedestres e operários.
Quando finalizada, a Rua das Carnaúbas ficará exclusiva para o sentido de descida em direção à EPTG. A pista será alargada para melhorar a fluidez. Já os motoristas que vêm da EPTG sentido Águas Claras seguirão pela nova pista, que desemboca no balão da Paróquia Nossa Senhora de Assunção. Um retorno foi projetado para contornar o estacionamento, oferecendo mais opções de circulação.
Durante mais de uma semana, a redação tentou contato com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF) para esclarecer dúvidas sobre o andamento das obras na terceira saída e na marginal da EPTG, nas proximidades do viaduto Israel Pinheiro. As perguntas incluíam prazos, objetivos e motivos para as paralisações.
A única resposta recebida foi genérica: “A terceira saída liga a Estrada Parque Taguatinga (EPTG) à Rua das Carnaúbas, na altura do Lote 12, nas proximidades do Parque Ecológico. Além de oferecer uma nova alternativa para quem acessa a região, a obra também garantiu a fluidez do trânsito para os mais de 150 mil motoristas que trafegam pela região diariamente”.
Contudo, a reportagem constatou que não há operários no local, apenas materiais de construção espalhados. Recentemente, uma das pistas foi interditada novamente — não para a conclusão da obra, mas para a retirada do asfalto aplicado há menos de três anos.
Entusiasmo inicial dá lugar à frustração
No início, a população recebeu a terceira saída com otimismo. A ciclovia e a ampliação do estacionamento próximo à área comercial foram bem recebidas. No entanto, problemas como a má execução do retorno (o chamado “meio balão”), a ausência de sinalização e os novos gargalos geraram insatisfação.
Apesar das críticas, muitos ainda reconhecem a importância da terceira saída para o desenvolvimento da região. Mas para que a obra cumpra seu propósito, é essencial que o GDF — por meio do DER, da Secretaria de Mobilidade e do Detran — resolva os entraves, finalize as intervenções e priorize a segurança e a qualidade de vida dos moradores.