Por muito tempo, os pedestres de Águas Claras conviveram com a presença de fios soltos nas ruas e pendurados nos postes. Emaranhados de cabos, muitos deles caídos nas calçadas ou até mesmo na altura da passagem, foram obstáculos iminentes para pedestres, pets e veículos, principalmente para idosos. Além da polução visual, o excesso de fiação desordenada representava um risco significativo à segurança da população.
Os postes de energia elétrica são compartilhados com empresas de telecomunicações, que alugam espaço para instalação de cabos de telefonia e internet. No topo dessas estruturas estão as linhas de alta tensão, que podem alcanças 13 mil volts ou mais. Apenas 15 centímetros de aproximação são suficientes para causar uma descarga elétrica grave, com potencial para provocar queimaduras severas, mutilações e até a morte.
Entretanto, é a fiação inferior, composta por cabos de telefonia internet, que se acumula de forma desordenada. Muitos desses fios são abandonados, cortados ou pendurados a poucos metros do solo e até mesmo caídos em ruas e calçadas. Além do impacto estético negativo, essa situação representa um perigo real. Tropeços, choques elétricos e acidentes de trânsito são algumas das conseqüências desse descaso.
Números alarmantes
O risco não é apenas teórico. Segundo dados do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC), com base em informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), 46 pessoas morreram no Brasil em 2022 devido a acidentes com cabos energizados caídos no solo. Em 2023, foram 16 mortes. Entre 2009 e 2021, quase 11 mil pessoas se acidentaram com fios elétricos no país. A falta d fiscalização e a negligência das empresas responsáveis agravam o problema.
Além dos riscos de acidentes, os fios abandonados podem cair sobre ruas e calçadas, causando incêndios ou interrupções no fornecimento de energia. Crianças e animais de estimação também estão vulneráveis a possíveis acidentes.
Responsabilidade
A Neoenergia, concessionária responsável pelo fornecimento de energia no Distrito Federal, explica que realiza periodicamente o ordenamento das redes de telecomunicações para minimizar riscos à população. Em nota, a empresa destaca que as ações preventivas incluem a remoção de fiações irregulares e sem identificação da empresa responsável. Essas medidas seguem a Resolução conjunta nº 001/1999 da Aneel/Anatel/ANP, que obriga as distribuidoras a compartilharem os postes com operadoras de telecomunicações, enquanto estas devem manter suas redes organizadas e seguras.
Em Águas Claras, a empresa afirma vem se esforçando para fazer a mudança, tanto na estética visual, e também na organização dos fios nos postes, que são mais perceptíveis. A desordem da fiação gerava preocupação entre moradores e até mesmo condutores de veículos. Entretanto, ainda é possível localizar algumas estruturas com fios, como é caso da Rua 26 Norte. É possível observar próximo ao comércio local, a presença de fios ainda não organizados próximo ao solo e em meio à passagem de pedestres.
Alejandra Alfonso, moradora da Avenida Pau Brasil, também considera muito perigoso, já que os fios ficam expostos no caminho dos pedestres. Ela conta que na Avenida Castanheiras teve um fio que ficou pendurado bastante tempo. “Complica muito o trajeto, porque temos que dividir o espaço com obras e com ruas estreitas e, ainda por cima, com fios espalhados pelo chão”.
Para solucionar o problema, é fundamental um esforço conjunto entre órgãos reguladores, concessionárias de energia e empresas de telecomunicações. A fiscalização deve ser intensificada, e medidas mais rígidas precisam ser aplicadas para garantir a segurança da população e a organização do espaço urbano.
Enquanto isso pedestres e motoristas seguem enfrentando diariamente alguns desafios impostos pelo restante dos fios soltos, torcendo para que o descaso não cause acidentes fora dos padrões em Águas Claras.
